Expandindo horizontes: políticas afirmativas dão a tônica da solenidade de colação de grau do Campus de Russas

No começo do século passado, Alberto Caeiro, um dos heterônimos do escritor Fernando Pessoa, materializou a percepção de infinitude do universo pelo olhar humano. “Porque eu sou do tamanho do que vejo/ E não, do tamanho da minha altura…”. Partilhando da mesma origem etimológica está a palavra universidade, e, assim como o eu lírico do poeta português, pode-se dizer que quem vislumbra o universo do ensino superior tem igualmente a sua perspectiva de horizonte ampliada

Maiores do que a própria altura estão, portanto, os 116 novos profissionais dos cursos de Ciência da Computação, Engenharia Civil, Engenharia de Produção, Engenharia de Software e Engenharia Mecânica, que colaram grau na tarde de terça-feira (23), no Campus da Universidade Federal do Ceará (UFC) em Russas. De origens geográficas, sociais e econômicas distintas, cada concludente presente na solenidade encontrou no saber uma possibilidade de visualizar mais além em suas vidas.

Morador da zona rural do município de Russas, o filho de agricultores Gilmar Silva era um desses jovens. Todo sorrisos na cerimônia, Gilmar sabia que o momento era de alegria, afinal, para chegar até ali, a caminhada não tinha sido fácil. “No começo eu vinha de bicicleta todos os dias, mas sofri um assalto e então meu pai, que já vinha vender verdura aqui no Centro, começou a me trazer para cá. Ele não tem um box, ele sai vendendo na rua mesmo, e acabou que ele conseguiu pegar amizade com o pessoal aqui do campus e até fez uma clientela”, contou o formando.

Cotista egresso da escola pública, Gilmar disse estar vivendo a concretização de um sonho ao se tornar engenheiro civil e destacou a relevância de políticas de inclusão no ensino superior. “Acho que é muito importante o estudante de escola pública estar na universidade, visto que aqui dentro estudei com gente da mesma condição que eu, gente com condições melhores, que vinham de escolas particulares, tinha gente com experiência fora do País até. Ter na mesma sala pessoas de diferentes classes sociais, com várias experiências, agrega muito”, avaliou.

Natacha Falcão celebrou junto à família e ao namorado, também graduado pela UFC, no mesmo campus. Agora os dois são profissionais de Engenharia Civil (Foto: Ribamar Neto/UFC)

Quem também encontrou na universidade pública um alargamento de caminhos para o futuro foi a formanda em Engenharia Civil Natacha Falcão. Natural de Beberibe, a concludente apontou a assistência estudantil como elemento-chave para o progresso dos alunos com vulnerabilidade econômica na graduação. “Se eu tivesse escolhido outros campi da UFC, não sei se teria conseguido ficar até o final, como foi o caso de Russas. Sou muito feliz de ter vindo para cá, tive muito suporte da universidade com a assistência estudantil, participei de bolsas, tudo que tinha para fazer aqui eu fiz. Participei de empresa júnior, PET (Programa de Educação Tutorial), Encontros Universitários, vivi intensamente esses anos”, afirmou. 

Ao lado da família e do namorado, que também se graduou em Engenharia Civil no mesmo campus, Natacha projeta uma transformação na vida de outros membros da família. “Para mim, que venho de família humilde, se não fosse a Universidade Federal do Ceará talvez eu não tivesse me formado. Hoje ajudo na formação dos meus irmãos, então tenho muita gratidão à UFC por isso”, declarou.

A distância geográfica de mais de 2 mil quilômetros entre Russas e Itaúna não foi empecilho para o mineiro Mateus Andrade. Quando ainda no 9º ano do ensino fundamental, o estudante resolveu olhar mais longe em busca de uma profissão que unisse sua paixão pelos videogames e programação. “Fui pesquisar os cursos de Engenharia de Software no Brasil e achei o Campus de Russas, aí, quando vi a ementa do curso, eu me apaixonei. Desde o primeiro ano do ensino médio eu ficava olhando as notas de corte, quando chegou no terceiro ano eu fiz ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) e vim pra cá”, relembrou.

Mateus Andrade ainda nem tinha entrado no Ensino Médio, em Minas Gerais, quando escolheu o campus da UFC em Russas para cursar Engenharia de Software. Para o jovem, o período da graduação trouxe conquistas e mudanças intensas em sua vida (Foto: Ribamar Neto/UFC)

Atravessar distâncias e barreiras, para Mateus, foi mais do que o aspecto físico, mas também de experiência e aprendizado para a vida. “Vir para cá foi uma nova era na minha vida, nasceu um adulto dentro de mim. Foi sensacional, principalmente porque foi na UFC. Correspondeu às minhas expectativas”, considerou. 

DISCURSOS – Em meio a lágrimas, a oradora discente Ana Júlia Rodrigues, do curso de Engenharia de Produção, classificou a solenidade de colação de grau como “o triunfo da perseverança”. “Para muitos de nós, originários do Vale do Jaguaribe, da Região Metropolitana de Fortaleza e de diversas partes do Nordeste e do Brasil, este campus tornou-se um lar, um lugar onde plantamos as sementes do nosso conhecimento e amadurecemos como profissionais e seres humanos. Celebramos não apenas a conclusão de uma etapa acadêmica, mas a realização de sonhos”, complementou. 

Representando os colegas formandos, Ana Júlia Rodrigues destacou em seu discurso a vivência no campus: mais do que um espaço de formação e amadurecimento intelectual, o lugar tornou-se um lar para muitos estudantes (Foto: Ribamar Neto/UFC)

oradora docente Anna Beatriz Marques ressaltou em seu discurso a importância da diversidade de gênero no ambiente universitário. “Nosso Campus vem trabalhando para isso. Temos três projetos de diferentes cursos que visam fortalecer a participação feminina na área de Ciência, Tecnologia e Engenharia: Meninas Digitais do Vale, Mulheres de Aço e Filhas de Edwiges. Estamos iniciando o Núcleo Interdisciplinar para a Diversidade de Gênero na Ciência, Tecnologia e Engenharia (NICITE), para fortalecer a colaboração entre os cursos e identificar soluções à desigualdade de gêneros nessas áreas”, exemplificou. 

Em sua fala como representante dos docentes, a professora Anna Beatriz Marques ressaltou iniciativas de fortalecimento da participação feminina na área de Ciência, Tecnologia e Engenharia (Foto: Ribamar Neto/UFC)

reitor Custódio Almeida elencou em sua fala a pobreza e a ausência de políticas públicas como dois fatores relevantes na desistência ao longo da vida escolar. Nesse contexto, no qual grande parcela dos estudantes brasileiros ainda não consegue encerrar os primeiros ciclos – ensino fundamental e médio –, o término da graduação é uma vitória que merece ser celebrada. “Para quem entrou no ensino superior, a conclusão do ensino médio foi uma vitória que produziu muitos sonhos: os sonhos que vocês realizam agora; mas, lembremos, muitos que sonharam esse mesmo sonho não conseguiram chegar até aqui. Vocês, que estão aqui, apesar das muitas dificuldades enfrentadas, não foram barrados nos ciclos anteriores e superaram os desafios, e seguiram adiante. Por isso, temos mesmo muito para festejar”, declarou. 

Para o reitor Custódio Almeida, a conquista da graduação deve ser celebrada como um passo importante entre os diferentes ciclos de formação e amadurecimento da vida (Foto: Ribamat Neto/UFC)

O ciclo de colações segue nos campi do Interior na quinta-feira (25), no Campus de Sobral, com 146 concludentes e 27 egressos; sexta-feira (26), no Campus de Crateús, com 29 concludentes e 2 egressos; e dia 20 de fevereiro, com a formatura do curso de Medicina – Campus da UFC em Sobral, com 37 concludentes e 1 egresso.

Confira aqui as fotos do evento

Fonte: Gabinete da PROGRAD – fone: (85) 3366 9498; e-mail: gabinete@prograd.ufc.br/ Cerimonial da UFC – e-mail: cerimonial@ufc.br 

25 de Janeiro de 2024


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